No último final de semana (14 e 15.04), os municípios de Porto Estrela (198 km de Cuiabá) e Nossa Senhora do Livramento (32 km de Cuiabá) receberam a Caravana da Saúde, projeto nacional que visa traçar a radiografia da assistência à saúde em regiões pobres.
Segundo o mapa das desigualdades sociais do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), as duas cidades possuem os piores IDH’s (Índice de Desenvolvimento Humano) de Mato Grosso, 0,654 e 0,655 respectivamente.
Os melhores índices do Estado ultrapassam 0,900. Em Mato Grosso o programa é coordenado pelo Conselho Regional de Medicina.
O principal problema verificado na saúde dos municípios é a falta de repasses de verbas por parte do Governo Estadual.
Em Porto Estrela, a última verba recebida foi em julho do ano passado.
A constatação do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso, é que as condições das unidades de saúde melhoraram desde a última visita, mas muita coisa ainda precisa ser feita para que os municípios avancem no IDH.
“Conseguir todas as melhorias de uma só vez é difícil, mas é importante dar um passo a frente todos os dias. É um trabalho de formiguinha que envolve toda a comunidade”, enfatizou a presidente do CRM-MT, Dalva Alves das Neves.
As reuniões, que ocorreram com participação da população e representantes do poder público municipal, evidenciaram a necessidade de investimentos em educação, a falta de saneamento básico e a dificuldade dos municípios em atingir as comunidades mais afastadas.
Em Nossa Senhora do Livramento, 70% dos 11 mil habitantes, moram na zona rural. Outro ponto levantado é o papel fundamental dos agentes de saúde na orientação, pois são eles que percorrem as casas diariamente e estão em maior contato com os moradores.
Segundo a Secretária Municipal de Educação, Andréia de Aguiar Campos Moretti, em Porto Estrela não existe mais evasão escolar após a implantação do Programa Bolsa Família, no entanto, falta apoio da família. “Os pais não entendem a importância do estudo para seus filhos, se os procuramos para conversar sobre algum mau comportamento ou dificuldades do filho na escola, eles repreendem a iniciativa dos professores”, explicou Andréia.
Em Livramento, o alto contingente de analfabetos é visto pelo prefeito, Zenildo Pacheco, como o principal motivo para o município integrar o mapa das desigualdades.
A presidente do CRM-MT destacou que saúde e educação devem caminhar juntos. “O povo só tem liberdade quando há educação, só assim existe democracia para exigir direitos. Mato Grosso é o maior produtor de grãos do Brasil, mas isso não reflete em melhorias para a população, é preciso traduzir toda essa riqueza para outras áreas também”, observou Dalva.
Outras questões foram discutidas durante a Caravana da Saúde, como empregabilidade, moradia e coleta do lixo, itens que podem auxiliar Porto Estrela e Nossa Senhora do Livramento a evoluirem o Índice de Desenvolvimento Humano. Soluções pensadas em conjunto dizem respeito à escola em tempo integral, implantação de programas de saúde nas escolas e desenvolvimento de hortas comunitárias para melhorar a alimentação.
Após o debate, a população respondeu a um questionário em que deu nota aos principais serviços públicos e destacou as maiores necessidades do município. Com essas informações, o Conselho Regional de Medicina vai formalizar um documento, que será repassado às autoridades competentes, na tentativa de resolver ou minimizar tais problemas. A expectativa é que a partir de então haja continuidade no acompanhamento.
Saúde: População e profissionais expõem os principais problemas
A realização da Caravana da Saúde através do CRM-MT avaliou as condições locais das unidades de saúde, fiscalizou hospitais e PSF’s e buscou junto à comunidade as percepções sobre a qualidade de vida.
Em Porto Estrela, há dois PSF’s (Programa Saúde da Família), sendo um deles recém inaugurado. Segundo a Secretária de Saúde, Fátima Tereza de Barros, eles possuem estrutura para atender a demanda, no entanto, o médico responsável fica 24 horas disponível e atendimentos de alta complexidade precisam ser repassados aos municípios próximos, como Barra do Bugres.
“Nosso Pronto Atendimento só tem condições de estabilizar o paciente para ser levado a outras unidades. O índice de mortalidade infantil está sanado e a evasão de vacinação é baixa, geralmente com idosos. Temos um químico analisando a água e a dengue diminuiu consideravelmente de seis anos pra cá”, pontuou.
Segundo o prefeito do município, Benedito de Oliveira, a saúde avançou, mas ainda há muito a ser feito. “Procuramos melhorar a condição dos salários, para que todos trabalhem contentes e motivados. A situação dos agentes de saúde foi regularizada e estamos focando em tratamento preventivo para diminuir gastos com remédios e transporte. A aquisição de medicamentos é um dos maiores problemas, pois é uma questão burocrática, não há compra direta e a licitação demora, ainda não temos uma pessoa habilidosa para agilizar os contatos. A questão crucial é a falta de recursos, e não se faz nada sem dinheiro”, esclareceu.
Uma profissional do município sugeriu que haja maior controle na distribuição dos medicamentos através de um sistema informatizado. Ela ainda falou da deficiência de transporte para o médico ir até as comunidades distantes e ressaltou que o profissional precisa estar engajado e levar a comunidade para si, pois é muito difícil mudar hábitos.
A conselheira do CRM-MT Iracema Queiroz destacou que a saúde é função do Estado. “Se o município não pode arcar, o Estado precisa assumir. Saúde não é caridade, como era na Idade Média, desde 1988 é direito garantido na Constituição e além disso, todos pagamos impostos”, frisou. Ela entende que um dos grandes problemas é a carreira do médico, pois se o município não tem recursos, não tem profissionais e ficar 24 horas por dia disponível é a maior limitação. “Se não houver ajuda, não há fixação do profissional e a comunidade fica prejudicada”.
Em Nossa Senhora do Livramento, a população avalia que houve significativa melhora nas condições da saúde nos últimos anos. Por ser médico, o atual prefeito do município tem focado sua gestão nessa área. O hospital da cidade foi reformado recentemente e um PSF atende a população rural e outro está em construção para atender a população urbana.
Zenildo afirmou que mesmo sem repasse do Estado, estão conseguindo melhorar a realidade. “O problema da saúde no Brasil é o financiamento. Se os médicos não se unirem, o SUS está fadado à falência”.
A população da cidade argumentou que as unidades regionais devem estar mais preparadas para mandar menos pacientes para a Capital.
A presidente do CRM-MT, Dalva Alves das Neves, ainda destacou que é preciso trabalhar com os excluídos, ou seja, deficientes, alcoólatras, crianças desaparecidas, etc. “A igreja, a família e a escola tem papel fundamental nessa luta”.
FONTE: EXPRESSOMT
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